A Igreja e o poder

Livro reflete sobre o papel dos cristãos na política em meio à era das polarizações.

O Reino de Deus não é deste mundo, mas até mesmo o Eterno não deixa de interagir com os reinos terrestres. Acima dos governos mundanos, é o Senhor, em última instância que governa o destino das nações e controla o desfecho da história (Deuteronômio 2:21). De idêntica maneira, o cristão nunca estará fora da esfera política, ainda que se diga apolítico. O evangelho transforma o indivíduo e abençoa a sociedade.

Assim, partindo do pressuposto de que a vida tem uma dimensão política inescapável, o pastor e jornalista Marcos De Benedicto, com pós-doutorado em Novo Testamento, apresenta à igreja um importante exercício de reflexão e conscientização em sua obra "Política: O que você precisa saber" (CPB, 2022, 160 p.). O livro faz parte da Série Essencial, que incluirá vários temas bíblicos e contemporâneos.

Estabelecendo um diálogo entre a teoria política e a teologia, trabalhando com dados atualizados e conceitos importantes, o autor inicia o livro com uma genealogia da democracia e amplia a análise com um panorama da política na Bíblia e na visão adventista. Ele também reflete sobre a teologia do poder, questiona a polarização atual e propõe uma aplicação prática desses princípios para a relação entre política e religião. A obra ainda demonstra como a visão bíblica de um milênio no Céu, após a volta de Cristo (Apocalipse 20), afasta os adventistas da ilusão de uma nova era de paz neste mundo. O último capítulo apresenta a compreensão adventista da filosofia da história, afirmando que  "providência divina está guiando a história ao fim desejado e que Deus fará uma intervenção iminente no mundo" (p. 151).

De Benedicto se alinha à mais fiel tradição adventista ao reconhecer que o povo de Deus tem um papel a desempenhar em favor de uma sociedade mais justa, mas deve se manter fora de toda disputa partidária, em uma clara separação entre Igreja e Estado. Desse modo, a Igreja não apoia oficialmente partidos políticos nem candidatos, incluindo membros da própria denominação. Por outro lado, a Igreja está aberta a interagir com as autoridades constituídas de todos os partidos e estabelecer pontes de diálogo para a defesa de valores humanos como a liberdade religiosa e a promoção de projetos de saúde, educação e desenvolvimento social.

Essas conclusões se alinham com a clara orientação de Ellen White: "Não podemos, com segurança, tomar parte em nenhum plano político." (Fundamentos da Educação Cristã, p. 475). Isso porque haverá o perigo de assimilar de modo acrítico o projeto de poder de qualquer partido, que sempre terá pontos contraditórios com os valores do reino de Deus. A pioneira adventista, por sua vez, valoriza a vida do candidato tendo em vista seu desdobramento na esfera pública. "Homens intemperantes não devem ser colocados em posições de confiança pelo voto do povo. [...] Da decisão de homens nessas posições de confiança dependem vida e liberdade, ou servidão e desespero" (Temperança, p. 47).

O autor demonstra que o respeito às autoridades sem um adesismo bajulatório livra o servo de Deus de idolatrar partidos, ideologias e personalidades políticas, especialmente em ambientes reais ou virtuais de mútuas agressões. Todos os projetos políticos precisam ser vistos da perspectiva da eternidade. Em breve essas disputas darão lugar a uma nova realidade, assegura De Benedicto: "A boa notícia é que o reino de Cristo logo substituirá todos os domínios terrenos. Nesse reino, terá lugar apenas a boa 'política', que promove a vida, amplia a liberdade e beneficia todos" (p. 159, 160).

▣ Guilherme Silva

Por quê você deveria ler a Bíblia?

 Com tantos livros já publicados pelos mais diversos autores e assuntos, falando sobre quase tudo, com toda a sorte de conhecimento, você pode estar se perguntando por que você deveria ler a Bíblia Sagrada. De certo a Bíblia Sagrada não é um livro fácil de se entender. Não poderia ser diferente disto, a Bíblia foi escrita por pelo menos 40 pessoas diferentes, em idiomas diferentes em uma janela de um milênio e meio. Mil e quinhentos anos se passaram desde quando Moisés começou a escrever o Gênesis, o livro de Jó ou seus salmos até a conclusão do livro da Revelação por João, o evangelista.

A História é uma, por assim dizer, ciência investigativa, visto que a própria palavra história vem do grego que significa investigação. E é chamado de período histórico, ou simplesmente História, tudo que aconteceu com a Civilização Humana do século 40 antes de Cristo até hoje. O que do ponto de vista da cronologia bíblica engloba toda a história humana.

Essa investigação que a História faz só é possível por causa da invenção da escrita, a começar pela mais rudimentar que é a escrita cuneiforme. A escrita cuneiforme era uma tábula de argila, onde um palito com a seção de sua extremidade em formado de cunha - daí deriva seu nome cuneiforme - fazia marca na superfície macia da argila. Então esse tablete era levado ao forno e virava um registro mais resistente na forma de cerâmica.

Entretanto a escrita melhor desenvolvida começou cerca de um século ou dois antes de a Bíblia começar a ser escrita. Esse período é o que pode se chamar de o período "esclarecido da História". Onde as fontes históricas são melhor preservadas e a comunicação com o passado é melhor. E foi nesse contexto que a Bíblia Sagrada começou a ser escrita, em uma língua semítica com um léxico de apenas sete mil palavras. O inglês, que é a língua mais falada e conhecida no mundo hoje, tem um léxico, segundo o dicionário Oxford, de cento e setenta mil palavras, e em quantidade crescente a medida que novas tecnologias vão fazendo aparecer novas palavras. O português, cheio de sinônimos e estrangeirismos tem, em seu maior dicionário online, o Dicionário Contemporâneo Aulete, duzentas e onze mil palavras. Isso faz da Língua Portuguesa um idioma com 30 vezes mais palavras que a Língua Hebraica.

Conta a história que certa vez um missionário foi oferecer-se de ministrar um curso bíblico a um homem bem letrado de nome Francisco, porém muito cético e ateu. Ao ser-lhe oferecido o curso bíblico o cético respondeu: "Eu não preciso estudar a Bíblia. A Bíblia é um livro de fábulas. É um livro todo errado, que não é corroborado pela Ciência tal como a conhecemos hoje." Tão logo esta foi a resposta o missionário respondeu: "Então se um dia o senhor querer provar que a Bíblia está toda errada, como o senhor mesmo diz, eu estou aqui para a presentar todos os textos para que o senhor possa refutá-la!" Então Francisco perguntou: "Mas como assim? Como provar que a Bíblia está toda errada?" Então o missionário citou Isaías 13:19-20 que dizia:

19 Babilônia, a joia dos reinos, o esplendor do orgulho dos babilônios. será destruída por Deus à semelhança de Sodoma e Gomorra. 20 Nunca mais será repovoada nem habitada, de geração em geração; o árabe não armará ali a sua tenda e o pastor não fará descansar ali o seu rebanho.

Então - disse o missionário - se o senhor quiser provar que a Bíblia está errada é só repovoar a cidade da Babilônia!

Desde que o profeta Isaías escreveu este texto se passaram  27 séculos e a mais de 2,500 anos Babilônia não existe mais, tão pouco se acham as suas ruínas. Hoje é Babilônia é um deserto civilizacional localizado nas terras mais estéreis e hostis do Iraque. Pouco ou quase nada se acha à margem direita do rio Eufrates, onde se supõe ter sido Babilônia, ao passo que há um monte de cidades entre o rio Tigres e o Eufrates (margem esquerda), e o próprio rio Tigre passa por dentro da grande cidade de Bagdá. Em 1986 Saddam Hussein, ditador do Iraque, disse que iria reconstruir a Babilônia, mas cinco anos depois o seu exército iraquiano invadiu o pequeno Estado do Kwait, o que desencadeou uma guerra que desestabilizou para sempre o Iraque.

Dez anos depois da Guerra do Kwait uma organização terrorista chamada Al Qaeda executou um dos maiores ataques terroristas do mundo contra a maior potência econômica global. E em decorrência disto, sob a administração de George Walker Bush, os Estados Unidos da América começaram a guerrear contra o Iraque sob suspeita de o mesmo ter armas de destruição em massa.

O homem que mais esteve perto de reconstruir Babilônia foi julgado e condenado a morte pelo povo de seu próprio país 20 anos após ter prometido reconstruir Babilônia. O que parecia ser uma realidade tomou incríveis desvios e pois fim a um gigantesco desafio contra Deus.

E esta é apenas mais uma das muitas grandes profecias bíblicas que se fazem imponentes hoje. Só para citar mais uma o que podemos dizer a respeito da magnífica profecia de Daniel a respeito da estátua da qual o rei Nabucodonosor sonhara? Quatro grandes impérios, um sucedendo o outro e no final restaram dez, e depois nove poderes dos pés de barro misturado com ferro. No final do século XIII e início do século XIX o general, e posteriormente imperador, francês Napoleão Bonaparte tentou unificar a Europa sob o poder de sua espada e fracassou. O que Napoleão conseguiu foi dividir ainda mais o povo francês em classes socais e grupos de interesses. O que Napoleão deixou como legado foi tão somente a solução de se resolver conflitos sociais e políticos com a guilhotina. Mas nada deixou de união.

Depois de um século da morte de Napoleão veio Adolf Hitler, um austríaco crescido e radicado na Alemanha. Criou uma grande máquina de guerra. Conquistou a Polônia, invadiu a França de Napoleão e controlou metade dela e seu império teve o mesmo fim que o império de Napoleão. Morrendo novamente este sonho em um frio e antecipado inverno russo.

Depois veio Joseph Stalin, um georgiano, e a sua expansão da União Soviética e a guerra fria. Hoje já se passaram 30 anos desde o fim da União Soviética, que foi esmagada pelo seu próprio peso. E com um desfecho monumental a União Europeia começou a ruir quando o povo britânico, em 23 de junho de 2016, ordenou aos seus políticos que tirassem o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte do bloco político e econômico da União Europeia. E a "Fortaleza Europeia" desde então dá sucessivos sinais de fraqueza como disse o profeta Daniel em seu livro homônimo, capítulo 2, versos 41 a 43:

41 Como viste, os pés e os dedos eram em parte de barro e em parte de ferro. Isso quer dizer que esse será um reino dividido, mas ainda assim terá um pouco da força do ferro, embora tenhas visto ferro misturado com barro. 42 Assim como os dedos eram em parte de ferro e em parte de barro, também esse reino será em parte forte e em parte frágil. 43 E, como viste, o ferro estava misturado com o barro. Isso quer dizer que se procurará fazer alianças políticas por meio de casamentos, mas essa união não se firmará, assim como o ferro não se mistura com o barro.

Mas a Bíblia Sagrada não é apenas uma coleção de histórias e profecias impressionantes! Ao se ler um livro uma tarefa importante é descobrir o que o autor daquele livro diz sobre ele. Na literatura moderna é o tipo de informação que se acha no prefácio ou no prólogo do livro. A Bíblia Sagrada, a rigor, como o seu nome sugere, é, não um livro, mas um conjunto de livros! Cada livro, com uma exceção ou outra, possui um curtíssimo prefácio de um ou dois versículos. Sendo assim a melhor forma de entender a Bíblia Sagrada é entender como ela trata a si mesma nas suas minúcias. E aqui está a primeira resposta à pergunta de por quê a você deveria ler a Bíblia. A Bíblia Sagrada é a verdade, pois é assim que ela mesmo diz na oração sacerdotal de Jesus: "Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade" (João 17:17).

Precisamos beber dessa fonte da verdade, seja o que for o significado desta verdade. Mas essa resposta suscita uma nova pergunta: "O que é a Verdade?" O verbete "verdade" significa aquilo que tem como propriedade estar conforme os fatos e a realidade. A Bíblia Sagrada entretanto ensina cada vez mais e mais a quem a estuda um profundo significado do que é A Verdade. Quando nós começamos a ler a Bíblia, pela primeira vez, naquela maratona de começar por Gênesis para terminar em Apocalipse e chegamos em Êxodo e vemos como Deus se apresentou a Moisés dizendo ser "Eu Sou". É quase impossível que quem lesse essas passagens, do nome de Deus, não se perguntasse o que significava, ou o que Deus queria dizer com aquilo que disse a Moisés. E com o tempo e muita reflexão nós podemos entender cada vez mais o significado daquilo que o texto estava dizendo. Há quase um ano surgiu uma reportagem em que uma idosa de 99 anos, chamada Helen, acabara de ler a Bíblia inteira pela 61ª vez, e quando o seu pastor perguntou por que ela ainda fazia isto ela respondeu: "Toda vez Deus me mostra algo novo." E isso é uma das múltiplas respostas de porque todos nós deveríamos ler a Bíblia.

A Bíblia é a verdade que nos aproxima de Cristo, o nosso Salvador. A Palavra de Deus é um caminho para se conhecer a Cristo, pois Jesus disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida [...]" (João 14:6). A caminhada para a Vida, por meio de Jesus, é incompleta sem a verdade de sua Palavra. É inconcebível que o cristão, sabendo ler, não tenha o hábito constante de ler e estudar a Bíblia Sagrada!

Seria possível ganhar a salvação sem conhecer a Deus? A Verdade de Deus está em sua Palavra, e a Palavra de Deus é a Bíblia Sagrada. Não podemos amar alguém se não o conhecermos. E se não amarmos a Deus não guardamos os seus mandamentos, visto que amando Deus é que vamos guardar os seus mandamentos (João 14:15). Ler a Bíblia Sagrada é como ler a carta de uma pai nosso que está distante e que nos ama, pois a Bíblia é a fiel Palavra de Deus com sotaque humano, pois Paulo de Tarso disse a Timóteo: "Toda a Escritura - isto é, a Bíblia - é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na Justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." (2 Timóteo 3:16-17).

Logo, é essencial para o cristão que ele se permita, através da leitura da Bíblia Sagrada, que o Espírito Santo de Deus possa moldar cada parte do caráter e conduta de si. Apenas frequentar a igreja assistindo aos cultos não é suficiente, é necessário ir à fonte! É necessário que tenhamos fome da Palavra de Deus para que sejamos espiritualmente bem nutridos, pois "nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mateus 4:4). E com isso tudo fortaleçamos a nossa fé!

▣ Wederson Geovane de Paula

Virada radical

Nilson França era o mais novo de três filhos. Nasceu em 1971, em Várzea do Poço (BA). Não tendo recebido os cuidados básicos acabou desenvolvendo graves feridas nas pernas. A situação era tão séria que a mãe decidiu deixá-lo fora de casa. Cavou um buraco, levantou uma cobertura de lona, estendeu alguns panos e o colocou ali. Ficou abandonado dia e noite, sendo ameaçado por cachorros da vizinhança e defendido por uma cadelinha que estava sempre por perto.

Permaneceu naquele buraco por alguns anos, desnutrido e sem condições de falar nem caminhar. Sua história começou a mudar quando Arlinda apareceu em sua casa. Ela não podia ter filhos e buscava uma criança para adotar. A mãe ofereceu um dos meninos mais velhos, mas ela perguntou pelo terceiro. Ouviu que era apenas uma "carniça", esperando para morrer. Arlinda o adotou, cuidou de sua saúde e, depois de alguns meses, ele se recuperou.

Nilson só conheceu essa história quando já era jovem e pouco antes do seu batismo, em 1993. Aceitou a Jesus intensamente e se tornou evangelista. Levou muitas pessoas ao batismo e plantou novas igrejas, até enfrentar uma crise familiar que destruiu seu casamento. Sua vida espiritual esfriou, ele abandonou a igreja e se envolveu com o que havia de pior em sua cidade.

A cada ano o pastor Daniel Rios, quem ele havia conduzido ao batismo, o visitava em seu sítio. Levava um livro missionário, conversavam e oravam juntos, até que perderam o contato. Daniel conseguiu encontrá-lo nas redes sociais e enviou uma mensagem apelando para que ele voltasse para os caminhos do Senhor. Foi uma longa jornada de volta, mas Nilson foi resgatado, e Daniel teve o privilégio de rebatizá-lo em 2014.

Nilson experimentou uma virada radical. Foi resgatado de um buraco literal e também da destruição espiritual. Continua firme na fé e voltou a ser evangelista. Já levou dezenas de pessoas ao batismo e plantou novas igrejas. Entre seus filhos na fé estão três pastores: Gilson Souza Oliveira, Paulo Emanuel Rios Silva e Daniel Lima Almeida Rios.

Nosso Deus é especialista em viradas radicais! Alguns exemplos bíblicos nos dão esta certeza: Abraão e Sara tiveram um filho na velhice; José foi transformado de escravo em governador; Davi derrotou o gigante Golias; Elias venceu sozinho os profetas de Baal; Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram vivos da fornalha ardente; Daniel foi resgatado ileso da cova dos leões; Paulo e Silas foram libertados da prisão. Porém, a virada mais significativa aconteceu no Calvário. Quando Cristo morreu na cruz, e aparente derrota foi transformada em vitória e salvação.

Essas viradas radicais não são privilégio do passado nem apenas dos heróis da fé. Elas continuam acontecendo hoje e foram destaque dos "10 Dias de Oração", programa realizado em fevereiro [de 2020]. A ênfase foi o resgate de amigos que se afastaram de Jesus, e histórias como a de Nilson se multiplicaram.

Mais do que viradas radicais, essas histórias são verdadeiros milagres, que também estão à nossa disposição. Deus pode agir em nossa vida pessoal, familiar, emocional, profissional, social, espiritual e especialmente na transformação das pessoas por que oramos. Ele "tem todo o poder" e "é nossa forte torre de defesa" (Ellen White, Profetas e Reis, p. 202). Nada é impossível para o Senhor. Acredite!

▣ Erton Köhler